
EU SOU DA ÉPOCA:
Apercebi-me do erro épico cometido pelo destino quando ouvia, em certa exposição histórica, certo balaio de músicas e notícias anos 60-70. Ouvia aquilo com sorriso de criança, com o ar de alguém cuja felicidade foi encontrada no mais suposto disparate. Alguém que descobriu que esteve sempre no lugar errado, e enfim encontrou seu lugar.
Mas tão logo minha alegria infantil se transformou num saudosismo senil. Voltei a minha época física quando, com dificuldade, levantei daquela cadeira cujo desenho arremetia a minha então descoberta época espiritual. Tudo e todos me pareceram demasiado incomuns, demasiado atuais.
Ouvindo vozes roucas e suaves, transportei-me por alguns instantes à vida universitária de meus pais, quando pensava-se duas vezes (até três) no que deixaria de ser apenas pensamento para ser fala. Os estudantes gritavam e cantavam para criticar.
Os ídolos eram Chico Buarque e Beatles, e não... deixa pra lá. Eu queria, por alguns instantes mais, ouvir os reis do iê-iê-iê e, ali mesmo mexer os pés e os ombros como fazem meus pais e como nós, que não vivemos Beatles, achamos ridículo. Por muito pouco, não me deixei levar pelas músicas de protesto e não saí gritando "diretas já" no meio daquela gente.
Eu acredito em outras vidas, talvez acredite porque queira crer que vivi o que nessa vida não vivi. Ainda não sei onde nem quando passei meus anos de glória, se em 20, 30, 40, se dancei o Charleston ou a dança dos meus pais. Eu queria, também, ter sido hippie e ter-me vestido à paz-e-amor, embora o “amor livre” e a marijuana não me seduzam. Os mais variados trechos da história me aliciam insistentemente. Talvez tenha vivido todos. Talvez deva fazer regressão.
Se minha alma não se apossou de outros corpos, nasci na época errada. Vivo como se tivesse assistido às partidas de Pelé e à viagem de Gagarin. Eu vejo e ouço como uma conservadora. Eu rejeito valores e a moda séculovinteum. Tenho espírito velho sob essa carcaça que insistiu em nascer na era dos computadores e do funk.
Luana Duarte Fuentefria.

Em breve!
Por: Iago Ribeiro.

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